Hoje em dia já está consolidada a ideia de interdependência existente entre o campo da psicologia e a educação. O modelo atual de ensino já consubstancia-se no entendimento que aspectos da subjetividade do ser e a afetividade são elementos relevantes para que o ensino atinja todas as potencialidades do estudante.
QUESTÕES PSICOLÓGICAS E A SUBJETIVIDADE
A vida agitada que vivenciamos atualmente oriunda de uma rotina muitas vezes sobrecarregada de tarefas e um apego excessivo às tecnologias, além de gerar grau elevado de ansiedade entre crianças e adolescentes, ocasiona desconexão dos jovens com seu Eu Interior. O foco da atenção de muitos jovens direciona-se a questões do mundo exterior. Cada vez menos as pessoas usufruem do tempo de “fazer nada”, para pensar e refletir sobre o real sentido da vida. A falta desse tempo primordial para o autoconhecimento e despertar de consciência abre lacunas para questões subjetivas que acabam contribuindo para a formação da personalidade. E essas questões, inevitavelmente acompanham as crianças e adolescentes em sua trajetória escolar.
Será que questões emocionais e relacionadas à afetividade têm interferência na qualidade da aprendizagem? As instituições têm um olhar para elementos subjetivos para a formação integral dos estudantes?
Eu acredito que estamos vivenciando neste momento a transformação onde muitas reformas estão por serem implementadas. Um tema que cada vez ganha mais espaço nas escolas é a educação emocional dos jovens. Aspectos teóricos da psicologia escolar já se fazem presente em muitas instituições, pois já se sabe que muito do que se aprende e, principalmente, do que não se aprende na escola tem origem em questões psicológicos.
Um fator importante para a qualidade na educação pressupõe um olhar atento para a subjetividade.
- Objetividade: instaura a realidade, aquilo que consideramos real, que está fora de nós.
- Subjetividade: instala-se na irregularidade, constitui a esfera do desejo e é o que nos diferencia como pessoas singulares.
Na transmissão do conhecimento, essas duas instâncias estão, necessariamente, presentes, porque a transmissão do conhecimento é também a transmissão de nossas formas de ser e de crer, as estruturas simbólicas transmitem-se ao mesmo tempo que o conhecimento científico.
Subjetividade é a maneira particular de um indivíduo elaborar e organizar seus pensamentos, sentimentos, ideias, personalidade, etc., o que pode revelar o modo como este indivíduo percebe e organiza o mundo a sua volta, como ele busca definir a sua finalidade, seu estar no mundo. Contudo, isso não é apenas um evento interno, mas também uma construção social.
Para estabelecer conexão com o outro, requer-se necessariamente uma conexão interior. E é essa conexão interior que é abordada no estudo da subjetividade. Para Carl Gustav Jung (1987): “A relação com o si-mesmo é ao mesmo tempo a relação com o próximo. E ninguém se vincula com o outro, se antes não se vincular consigo mesmo.”
Não vivenciamos mais uma realidade puramente tecnicista. Por isso, a tendência é cada vez menos nos depararmos com escolas que privilegiam em demasia questões técnicas de trabalho e a simples transmissão de conhecimento. Essas práticas desconsideram a existência do sujeito como um ser integral. Nesse cenário, esquece-se que cada estudante possui sua subjetividade e que para que o mesmo desempenhe um papel de impacto no mundo, primeiramente deve estar consciente e bem resolvido com questões do seu interior.
Nesse contexto, se deve buscar um aluno cada vez mais:
- Ativo: capaz, com seus esquemas internos, de intercambiar com as experiências externas;
- Livre: para ser e expressar-se dentro da sua maior verdade, sem alienar-se dos sistemas de leis e regras que delimitam seu poder;
- Autor: por não vivenciar o limite alienante, mas estruturante, que lhe dá autonomia e criatividade para ressignificar o passado, o presente e o futuro com um sistema de valores que o faça passar da onipotência para a produtividade.
ALTERNATIVAS DE PRÁTICAS QUE CONECTAM PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Gestaltpedagogia
Antes dos avanços nos estudos da gestaltpedagogia, a gestalterapia já se consolidava como uma abordagem da psicologia que baseia sua prática no princípio da integração das partes em um todo. De acordo com Ricardo Schers Goes (2017):
A premissa básica da psicologia da Gestalt é que a natureza humana é organizada em partes ou todos, formando um todo significativo. Com base nisso, o ensino escolar normal não deve menosprezar o aspecto integrativo de todo conhecimento e de todas as matérias a serem interligadas. Esta teoria acredita que o ser humano não se compõe de uma cabeça a ser treinada, ele também é dotado de uma psique e sentimentos que vivem num corpo. Esta unidade corpo-mente-alma-meio se influencia mutuamente. A partir desta concepção, o ensino regular deve valorizar os aspectos psicológicos e sociais do aluno, além dos aspectos cognitivos. A Gestalt condena o aprendizado somente cognitivo, especialmente se reduzido ao processo mnemônico, pois este ignora o aspecto emocional. As emoções podem e devem ser trabalhadas de forma positiva, fazendo-as objeto de conversa e discussão, permitindo ao aluno efetivamente alcançar uma aprendizagem integrativa.
A Gestaltpedagogia é uma abordagem surgida na década de 1970 por Hilarion Petzold. Essa prática parte da relação entre professor e aluno que, nem sempre, pressupõe uma construção saudável e construtiva emocionalmente. Busca-se a partir dessa abordagem uma tomada de consciência das partes (internas) do indivíduo para sua construção integral como indivíduo. Nesse cenário, caberia ao educador fomentar as competências e habilidades de seus alunos para que os mesmos desenvolvam seu potencial e atenuem os bloqueios e limitações internas. Segundo Adieliton Tavares Cezar (2018):
Na Gestaltpedagogia o professor deve, tanto quanto for possível, ser autêntico, congruente. Para isto, é necessário um contato intra e interpessoal (consigo e com a classe). Como o trabalho se desenvolve a partir da intersubjetividade, as dificuldades não são atribuídas apenas aos alunos. O professor deve ser capaz de encontrar a sua responsabilidade nelas.
Roda de Terapia Comunitária Integrativa nas Escolas
A Terapia Comunitária é uma técnica realizada em grupo em que ocorre uma partilha de experiências de vida, realizada de forma horizontal e circular, promovendo a fala de cada participante e tornando cada um deles o terapeuta do outro e de si mesmo. Essa prática pressupõe a construção de um grupo como um sistema, conforme organiza pessoas numa rede de conversações qualificadas com um propósito de favorecer, além do alivio do sofrimento, mudanças que ampliem as condições de uma existência com mais dignidade, respeito e cidadania. De acordo com o criador da Roda de Terapia Comunitária Integrativa, Adalberto Barreto (2007):
A pergunta, isto sim, que desestabiliza a pessoa, que problematiza, que faz refletir, que lhe apresenta as contradições, que a coloca numa situação de inquietação, até mesmo de angústia. Ela, a pessoa mesma, se obriga, então, a agir, a tomar uma atitude. É na relação de entre-ajuda que as mudanças acontecem e não por decretos e leis. É na solidariedade e no respeito aos diferentes saberes que uma comunidade pode refletir e encontrar soluções para as aflições do seu cotidiano.
Roda de Terapia Comunitária fortalece não só cada um enquanto indivíduo, mas o próprio grupo, principalmente quando se discutem as características da comunidade e se reforçam seus aspectos positivos tantas vezes pouco valorizados. Para ler mais sobre o assunto e entender como se aplica metodologicamente a Roda de Terapia Comunitária, recomendo a leitura “Roda de Terapia Comunitária nas escolas como promoção da Cultura de Paz“.
Se tiver interesse ler mais sobre Ansiedade, indico a leitura Ansiedade para Ansiosos. É apresentado um guia prático para você compreender todas as informações baseadas em evidências científicas sobre Transtornos de Ansiedade, além de uma descrição sobre os melhores tratamentos modernos.
E você, teria sugestões de outras alternativas de práticas que conectam psicologia e educação? Compartilhe suas vivências nos comentários.
Por hoje era isso!
Abraços!