Explorando a intuição das crianças
Desde muito cedo a criança encontra-se imersa num mundo no qual a geometria é presença marcante. No início da escolaridade, ela já carrega uma série de situações relacionadas à geometria adquiridas a partir de observações da realidade que a cerca e, inclusive, dos primeiros desenhos que produz livremente. O acesso à educação formal procura sistematizar e direcionar toda uma construção que a criança já internalizou.
Hoje vou apresentar o relato de uma vivência oriunda de uma oficina pedagógica que apliquei numa turma do 3º Ano. Essa Oficina, organizada em cinco etapas, foi pensada para promover a curiosidade e o interesse nas crianças, além de desenvolver também a ludicidade no ensino, tendo em vista a importância dos Jogos e Brincadeiras como Recurso Pedagógico. Essa estratégia busca trabalhar de forma intuitiva as questões de geometria espacial que serão desenvolvidas posteriormente de uma maneira mais formal.
As habilidades a serem trabalhadas nesse nível de escolaridade sugeridas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) pertinentes à geometria espacial são as seguintes:
- (EF03MA14) Descrever características de algumas figuras geométricas espaciais (prismas retos, pirâmides, cilindros, cones), relacionando-as com suas planificações.
- (EF03MA13) Associar figuras geométricas espaciais (cubo, bloco retangular, pirâmide, cone, cilindro e esfera) a objetos do mundo físico e nomear essas figuras.
O propósito desta Oficina é buscar um ensino de geometria a partir da exploração de conceitos no espaço tridimensional com a utilização dos sólidos geométricos. A Oficina utiliza os sólidos geométricos em dois formatos:
- Materiais concretos em acrílico e em madeira;
- Sólidos que serão construídos pelas crianças. Elas irão comparar suas construções com os objetos do cotidiano.
O trabalho com esse material concreto desempenha papel importante no ensino da geometria e é fundamental para que as crianças criem uma relação entre elas e o mundo ao seu redor. A geometria espacial quando abordada desde os primeiros anos de escolarização pode proporcionar o desenvolvimento de compreensões sobre posição, ocupação e movimentação no espaço e de descrições e representações de formas presentes no cotidiano.
O planejamento de aulas de geometria com a utilização dos sólidos geométricos tende a tornar a aprendizagem mais dinâmica e participativa. Conforme Roberto Dante (2008), o ensino da geometria, especialmente nos Anos Iniciais, deve percorrer uma série de etapas e procedimentos até que se chegue à formalização e abstração matemática dos conteúdos. Nesse nível escolar, é muito importante para o desenvolvimento cognitivo e lógico da criança a manipulação de objetos concretos. De acordo com o autor: “A geometria dos Anos Iniciais deve ser a geometria experimental ou geometria manipulativa, na qual o aluno manipula objetos ou embalagens, descobre seus elementos, suas características ou propriedades e também descobre diferenças e as semelhanças entre um e outro. Assim, é interessante iniciar com os sólidos geométricos porque são palpáveis, concretos e fazem parte da vivência dos alunos. Esse trabalho com sólidos geométricos desenvolve na criança o sentido de organização e orientação espacial. Para que isso ocorra, a própria criança precisa manipular objetos e descobrir propriedades nele.”.
Outro ponto importante é a busca por contextualizar o ensino da geometria com situações e formas que a criança já identifica no seu contexto. Sob esse ponto de vista, assim discorre Rosibel Kunz Radaelli (2010): “Desenvolvendo o pensamento geométrico através da visualização do meio na qual a criança está inserida, estarão sendo elaboradas estruturas relacionais importantes para a elaboração de um sistema de propriedades geométricas. Tal capacidade fará com que o aluno reconheça formas, identificando as características e propriedades de uma figura a fim de conceituá-la.”.
É verificável que o trabalho com os sólidos geométricos oportuniza às crianças uma aproximação com a geometria espacial de uma forma dinâmica e aproximando a ludicidade ao ensino. Ao manipularem livremente os objetos eles observam alguns elementos essenciais da geometria. Uma proposta de ensino acerca da geometria deve ir além da manipulação de sólidos e da observação de figuras. Esse ensino deve visar à diferenciação entre a aprendizagem de representações planas e de sólidos tridimensionais, pois ambos estão presentes simultaneamente na vida da criança, ou seja, é importante que as crianças criem uma relação entre elas e o mundo ao seu redor. Vale sublinhar que a geometria espacial quando abordada desde os primeiros anos de escolarização pode proporcionar o desenvolvimento de compreensões sobre posição, ocupação e movimentação no espaço e de descrições e representações de formas presentes no cotidiano.
Toda a Oficina Pedagógica com utilização dos sólidos geométricos pode ser acessa AQUI. Neste material, descrevo todas etapas para aplicação da oficina, com fotos das crianças e, principalmente, seus questionamentos e argumentos.



REFERÊNCIA:
Referência:
DANTE, L R. Aprendendo Sempre: matemática, 3º Ano. São Paulo: Ática, 2008.
GAY, M. R. G. Projeto Buriti: matemática. Obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna. Editora responsável: Mara Regina Garcia Gay. 2ª ed – São Paulo: Moderna, 2011.
PONTE, J.P. BROCARDO, J. OLIVEIRA, H. Investigações matemáticas na sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
RADAELLI, R. K. A Investigação e a Ação Docente no Ensino de Geometria em Anos Iniciais do Ensino Fundamental. 2010, Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências Exatas, Centro Universitário UNIVATES, Lajeado.